A escolha e nomeação de líderes na igreja de Cristo é um
processo de vital importância, cuja eficácia é comprometida por dois
posicionamentos extremos.
Por um lado, muitas pessoas potencialmente capacitadas pelos
parâmetros apresentados nas Escrituras, não se imaginam atuando como líderes,
pois têm seus conceitos sobre liderança permeados por paradigmas humanos,
ultrapassados e não valorizados por Deus.
Para estas pessoas, os líderes têm habilidades naturais que
não podem ser aprendidas. Pensam que líderes são aqueles indivíduos
visivelmente percebidos como tal, porque tendem a impor melhor suas ideias e
conseguem manifestar sua influência sobre outros com muito mais intensidade do que
são influenciados por estes, ou seja, não se deixam manipular.
Indivíduos com esse perfil são rotulados de "líderes
natos" - aqueles superdotados no campo dos relacionamentos, cuja
ascendência nas relações é notada desde a mais tenra idade.
O sentimento de incapacidade é inevitável para muitos que
possuem esse elevado e distorcido conceito sobre liderança cristã. Como
consequência, a igreja de Cristo fica desfalcada de pessoas de valor que
poderiam atuar com muita relevância na sua edificação.
Por outro lado, as demandas carentes de líderes se avolumam
e mesmo imbuídos da mais nobre intenção de fazer com que as coisas na igreja
aconteçam, somos impulsionados a nomear líderes ignorando as orientações
bíblicas que deveriam nortear este ato.
As escolhas são direcionadas pela necessidade e, quando
muito, por aquilo que se conhece das credenciais humanas, mas não pelos
critérios apresentados nas Escrituras.
As experiências profissionais, as habilidades naturais e às
vezes somente o fato de alguém aceitar o desafio são os elementos considerados
suficientes para conduzir o processo. Como consequência, a igreja de Cristo acaba
sendo liderada por pessoas biblicamente desqualificadas, cujas atuações são
altamente prejudiciais à saúde do corpo de Cristo.
Deste modo, em um extremo verificamos uma busca utópica
pelos poucos naturalmente superdotados conforme paradigmas mundanos, e no outro
extremo uma postura igualmente equivocada que pressupõe que qualquer pessoa
serve.
À luz dessas considerações, faz-se necessário desmistificar
a liderança cristã, sem diminuir sua grandiosidade, e buscar na Palavra de Deus
os princípios estabelecidos por Ele para colocar alguém nesta posição.
Se quisermos atuar em obediência ao Senhor, não podemos
admitir procedimentos de identificação e nomeação de líderes que ignoram os
Seus critérios para a escolha dos líderes da Sua igreja.
A Palavra de Deus nos apresenta em 1Timóteo 3 e Tito 1, os
parâmetros essenciais para a escolha dos oficiais da igreja de Cristo, sejam
eles bispos (ou supervisores), sejam eles diáconos.
Os candidatos a ficarem em uma posição de evidência na
igreja de Cristo, quer liderando algum ministério, quer atuando no diaconato,
deveriam ser submetidos ao crivo dessas passagens. São essas qualificações que
Deus espera encontrar nos candidatos a líderes do Seu rebanho.
Com tudo isso em mente, destaquemos alguns aspectos
essenciais derivados de uma análise mais cuidadosa destas duas passagens:
Em primeiro lugar é interessante perceber que não vemos
nestas passagens a busca por aquelas habilidades normalmente esperadas em um
"líder nato". Deus não busca pessoas que "vendam bem suas ideias",
ou que influenciem outros com sua personalidade forte, ou mesmo que possuam
experiências significativas no mercado de trabalho.
Pelo contrário, Deus estabelece características que são
virtudes cristãs acessíveis a todo servo fiel, e que podem ser didaticamente
agrupadas da seguinte forma:
- Liderar um lar bem constituído (marido de uma só
mulher, filhos fiéis e bem comportados sob disciplina - "pois se alguém
não lidera a própria casa como cuidará da igreja de Deus?". A
hospitalidade requerida do líder também está relacionada com seu lar - é como
se o mesmo dissesse "podem ficar em casa - não tenho nada a
esconder!").
- Comportar-se exemplarmente (irrepreensível, bom
testemunho dos de fora, primeiramente experimentado, justo, fiel em tudo,
piedoso, respeitável, amigo do bem).
- Exalar humildade (modesto, não arrogante, não
neófito - para não se ensoberbecer).
- Comunicar-se com santidade (uma só palavra, não
maldizente)
- Demonstrar autocontrole (domínio de si, sóbrio,
temperante, não violento, inimigo de contendas, cordato, não dado ao vinho)
- Evidenciar desapego material (não avarento, não
cobiçoso de torpe ganância).
- Manejar bem a Palavra da Verdade (apto para
ensinar, apegado à palavra fiel, poder para exortar no reto ensino e convencer
os que contradizem). Percebemos assim que a única habilidade requerida é o
manejo competente das Escrituras - tanto no ensino didático quanto na
contestação dos opositores.
Todas as outras exigências são atributos do caráter
cristão.
Em segundo lugar é necessário admitir, como desdobramento
natural desse entendimento aliado à disposição de obedecer ao Senhor, que será
necessário em alguns contextos, tomar a corajosa decisão de não realizar alguma
obra por falta do obreiro qualificado, ou não preencher algum cargo pela mesma
razão.
Finalmente é imperativo ressaltar a importância de se
investir em vidas, através do discipulado cristão, como plataforma de formação
e capacitação de líderes sadios. Tal investimento não apresenta retorno
imediato. A formação do caráter cristão e da destreza na Palavra é um processo
de longo prazo. Entretanto, é mandatório que se plante no presente para que se
obtenha frutos aptos no futuro!
Líderes sadios são líderes multiplicadores, que
constantemente derramam um pouco de suas vidas em outras vidas objetivando
despertar outros líderes sadios e multiplicadores (2Tm 2:2).
Idealmente, uma igreja saudável deveria ter sempre bem mais
pessoas qualificadas, ou líderes em potencial, do que líderes em exercício -
pois as virtudes esperadas dos líderes são na verdade manifestações da piedade,
que são, a rigor, o padrão de Deus que deveria ser almejado por todos os seus
filhos.
Wesley Zayit - Servo do Eterno
fonte: Vlademir Hernandes - Liderança
da Igreja
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